“Conto de Fadas para Bichas Pretas” tem sido um compromisso de realocação de uma narrativa que fez e faz falta no imaginário destas. Pensando no arranjo de “Conto de Fadas” como um conceito que estrutura valores e papéis sociais destinadas para o masculino e o feminino, ser bicha preta, é o entre mentes das polaridades. Pensar como a ausência de referências fantasiosas que contribuíram para a qualidade fabulatória, sensitiva e perceptiva de corpos negros gays é uma das intenções deste experimento. O exercício principal é restaurar a potência em mistificar, em criar ritos formativos. Diferentemente do modo de construir contos de fadas, em que o narrador caracteriza qualitativamente as personagens, eu, proponente e editor, assumo o cuidado de griot. Bichas pretas carecem de que suas histórias sejam ouvidas e contadas, por isso assumo o lugar de amigo de pesquisa, destas que gentilmente me oferecem histórias, em que sabem serem as próprias transformações em contos, que não leva delas o nome, mas o compartilhamento de serem histórias comuns. Costumeiramente, relatos de bichas pretas são contadas por “outro”, que nem sempre entende sua experiência. Por isso, assumindo mais uma vez o caráter experimentativo, eu, proponente, editor e bicha preta, busco redesenhar tais histórias, ouvindo-as e contando-as por imagens, expressões, letras, cantos e toques buscando nelas o mágico, o fantástico, o extraordinário que devolve ao interlocutor o seu lugar de operante de sua história, em busca de seu final feliz. A ideia é utilizar métodos da comunicação, minha área de formação, aliadas com técnicas da literatura e teatro de fazê-las materiais, a fim de serem também memória e registro. Os seguidores poderão interagir em tempo real com as histórias e conhecer um pouco mais das intimidades dos personagens pelo aplicativo. Por fim, terão de ver poroutro ponto, como estes textos se arrumam numa única apresentação de leitura dramática do que será concebido. É importante ressaltar que o trabalho de experimentação busca entender na convergência, possibilidade de interação entre mídias e posicionamento de discussõestão cara à contemporaneidade. É aproximando linguagens como a literatura e o teatro que a dinâmica deste projeto se dá.