Configurações subjetivas de práticas policiais e estratégias de sobrevivência de jovens negros em uma cidade da Bahia

Dissertação
Resumo: 

Este estudo foi desenvolvido a partir das minhas experiências pessoais, acadêmicas e profissionais com a temática do racismo e seus efeitos psicossociais, tendo como principal objetivo compreender as configurações subjetivas de jovens negros residentes em comunidades periféricas relacionadas às práticas policiais. À luz da Psicologia Histórico-Cultural, nos inspiramos na Epistemologia Qualitativa do teórico cubano Fernando Gonzalez Rey, na qual a pesquisa assume como principal finalidade o conhecimento da produção e organização dos sentidos subjetivos nos diferentes espaços sociais que constituem as subjetividades social e individual. Em termos teórico-metodológicos, conduzimos a produção das informações por meio do método construtivo-interpretativo do conhecimento, utilizando instrumentos grupais e individuais. A Oficina e a Roda de Conversa foram realizadas com homens e mulheres jovens, majoritariamente negros/as, com idade entre 18 a 29 anos, na sede de um Programa vinculado a secretaria de Justiça e Direitos Humanos em uma cidade da Bahia. No tocante aos estudos de casos, acompanhamos dois jovens negros (22 e 29 anos), também inscritos no referido Programa, entre os meses de maio e novembro de 2018. As informações produzidas foram analisadas com base na Teoria da Subjetividade em articulação com outras áreas do conhecimento, particularmente especializadas nas relações raciais. Elas indicam que as configurações subjetivas das/os jovens sobre a Polícia Militar e suas práticas são constituídas por sentidos subjetivos relacionados à compreensão dessa instituição como violenta, que pratica atos ilícitos por meio de procedimentos desrespeitosos, igualmente violentos e discriminatórios no território onde residem. Sendo que os policiais geralmente não são responsabilizados pelas instituições competentes, o que gera subjetivamente sensações de desconfiança, insegurança e medo. Assim sendo, o jovem negro que consegue sobreviver às expectativas de morte comumente aceita e esperada por alguns seguimentos sociais, tem de lidar com os estigmas que o enquadram como um marginal em potencial, forçando-o a criar estratégias de sobrevivência para evitar ou contornar a relação com a polícia, marcando suas experiências existenciais por tensões que envolvem o pertencimento a um grupo social racializado em contraposição a outro que se percebe apenas como humano (branco), assim como pela complexa operação subjetiva do encontro com pessoas negras (policiais) que reproduzem o racismo, reatualizando processos históricos que permanecem reverberando em suas subjetividades racializadas, fundadas na necropolítica e no racismo estrutural. Esperamos ter contribuído para aceitação de que é preciso desenvolver uma perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural sensível às produções de sentidos e configurações subjetivas racializadas, que não dizem respeito apenas aos processos subjetivos da população negra, mas da população em geral.

Programa de Pós-Graduação: 
Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI)
Nome do(a) Aluno(a): 
Silva, Tiago Ferreira da
Orientador(a) (es/as): 
Jesus, Mônica Lima de