E. M. Forster no cinema: questões de gênero e sexualidade nos filmes de James Ivory

Tese
Resumo: 
A presente tese é um estudo sobre a adaptação dos romances Um Quarto com Vista (1908) e Maurice (1913), de E. M. Forster, para os filmes Uma Janela para o Amor (1985) e Maurice (1987), dirigidos por James Ivory. Partimos da ideia que os filmes oferecem uma alternativa para o prazer visual que, no cinema comercial, foi estruturado por uma dinâmica entre gêneros que situa um olhar masculino a dominar e objetificar formas femininas (MULVEY, 1983). Tal alternativa apresenta-se através de um rearranjo de posições dos gêneros naquela estrutura, em imagens que ativam um imaginário homoerótico ou centram-se em experiências homossexuais, e assim disponibiliza uma dinâmica de olhares e prazeres mais complexa e diversa. A discussão enfoca a crítica a estruturas de opressão presente nos romances e nas estratégias de adaptação. Para isso, contextualizamos a obra do romancista e apresentamos a crítica que problematiza questões sobre gênero e sexualidade presentes em Sedgwick (1990), Rubin (1984) e Butler (1990). As especificidades das narrativas fílmicas são levantadas a partir de diferentes perspectivas da crítica britânica, como as que apresenta Higson (2003, 2006, 2011), Monk (2001, 2011) e Dyer (2002). Conceitos e ideias dos estudos da adaptação abordados na pesquisa são aproveitados de Bazin (2000), Cruz (2014), Elliot (2004, 2017), Hutcheon (2013), Leitch (2008), Cartmell & Whelehan (2010), Schober (2013) e Stam (2000), dentre outros, com enfoque para a contextualização das adaptações e para a noção de uma intertextualidade que extrapola a relação com os textos adaptados. A análise de Um Quarto com Vista e sua adaptação concentrou-se na discussão sobre representação de gêneros, nas imagens que subvertem a lógica de dominação masculina enquanto resistência e no aproveitamento de um ponto de vista que articula um prazer visual mais diversificado do que aquele que privilegia o desejo masculino e heterossexual. O estudo de Maurice e da adaptação homônima destacou as diferentes cenas de reconhecimento da experiência homossexual. Dentre elas, aquela que se efetiva, sugere a intermediação com uma alteridade de classe que perturba as estruturas de poder do patriarcado. Exploramos as estratégias de Ivory para transmutar as diferentes cenas, bem como o aproveitamento de intertextos que ativam imagens da homossexualidade. Concluímos que as adaptações de Ivory selecionam e elaboram imagens de subversão que, adaptadas no passado, criticam as relações entre poder, gênero e sexualidade e assim diversificam a cultura visual contemporânea a partir de uma distribuição mais democrática dos discursos e representações da experiência humana.
Programa de Pós-Graduação: 
Pós-Graduação em Literatura e Cultura (PPGLITCULT)
Nome do(a) Aluno(a): 
Souza, José Ailson Lemos de
Orientador(a) (es/as): 
Cruz, Décio Torres