Identidades antirracistas: ecos e ressonâncias de discursos e argumentos antiescravagistas

Tese
Resumo: 

O Brasil do século XXI apresenta uma negação generalizada do racismo convertida em uma amplitude antirracista. Diante desse quadro, podem-se levantar algumas questões: o que significa ser antirracista no Brasil atual? Como se constitui essa identidade? Quais semelhanças podem ser encontradas com a noção de identidade antiescravagista dos anos finais dos anos de 1880? E que semelhanças discursivas e argumentativas podem ser percebidas na construção dessas identidades? Sobre o antirracismo e o antiescravagismo, percebe-se que mobilizam semelhantes e inter-relacionados comportamentos discursivo-argumentativos, formando uma rede interdiscursiva que cobriria, paradoxalmente, enunciados racistas (em um recorte iniciado no ano de 2003 até a atualidade, que tem como marco a sanção da lei 10.639/03), bem como enunciados escravagistas ditos contrários ao escravagismo. A textualização dos antirracismos e dos antiescravagismos é interpretada tanto à luz dos estudos de Mikhail Bakhtin, quanto os de Michel Pechêux e os de Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca. O primeiro passo metodológico diz respeito ao levantamento e análise dos corpora enquanto sequências de enunciados materializadores de discursos relacionados a determinados campos ideológicos e com função argumentativa. Cada um dos períodos e temas investigados define um corpus: “corpus antiescravagista” e “corpus antirracista”. Nesse sentido, são examinados textos das instâncias jurídicas, a saber, atas, pareceres, propostas de lei e discursos parlamentares. Com o advento das novas tecnologias e novos suportes, são acrescentados, para o período atual, a análise de enunciados parlamentares e jornalísticos/midiáticos apresentados de forma televisionada ou online, artigos, transcrições de participação em mesa-redonda, entrevistas, etc. sendo esse um trabalho de natureza tanto bibliográfica quanto documental. Os resultados são construídos em um complexo em que se apresenta uma modulação de identidades antirracistas distribuídas em um continuum que, por sua vez, resguarda similaridades com as identidades antiescravagistas do pré-abolição de 1888, tanto no que respeita à proximidade entre os discursos e os argumentos antirracistas e antiescravocratas, bem como no que toca à atualização dos segundos nos primeiros. Detecta-se com isso, uma rede interdiscursiva em que valores antiescravagistas paradoxais ainda são um entrave para a aceitação social de medidas legais antirracistas reparatórias e são reatualizados pela manutenção eterna de ações afirmativas paliativas.

Programa de Pós-Graduação: 
Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura (PPGLINC)
Nome do(a) Aluno(a): 
Machado, Fernanda da Silva
Orientador(a) (es/as): 
Souza, Iracema Luiza de