Ao longo dos anos pessoas negras vêm sendo abordadas nas produções acadêmicas como sujeitos cognoscíveis, sob a justificativa da objetividade dos métodos científicos, são transformadas em objetos de pesquisa. Diante deste quadro, este trabalho tem como objetivo problematizar as itinerâncias acadêmicas de estudantes negras(os) do Curso de Serviço Social na UFBA, com ênfase em suas experiências curriculares e formativas relativas à questão étnicorracial, realocando-os(as) como sujeitos cognoscentes na produção do conhecimento, neste caso, na construção do currículo. Para tanto, entrevistamos estudantes negros(as) concluintes do curso de Serviço Social da UFBA, considerando a experiência da autora como estudante negra na universidade, oriunda do curso de Serviço Social da UFBA; a observação de algumas apreensões de estudantes, em sua maioria negras, quanto ao currículo e formação do curso; como também, por acreditarmos que estes (as) estudantes já haviam vivenciado boa parte da formação, estando em estágio final, e que, portanto, teriam um olhar mais ampliado sobre esse processo. Recorremos também ao levantamento de documentos que dizem respeito ao curso de Serviço Social na UFBA, particularmente, seu Projeto Pedagógico e matriz curricular, com o objetivo de compreender sua criação, a perspectiva de transversalidade étnicorracial presente no currículo e estrutura do curso. Utilizamos como recurso metodológico a análise documental e a entrevista narrativa semiestruturada. Consideramos, a partir deste trabalho que as estudantes possuem entendimentos próprios sobre currículo e sobre as suas formações, e interagem dialogicamente com o currículo e a formação em Serviço Social na UFBA, fazendo críticas e proposições. Percebemos através das falas das estudantes, que estas, enfrentaram diversas violências causadas pelo racismo em suas trajetórias, que o entrar na universidade representou uma conquista muito significativa, não apenas para elas próprias, como também para as suas famílias. Evidenciamos também que, historicamente, os saberes relativos à história negra foram sumariamente excluídos ou deformados na história oficial, construindo silenciamentos. Fato que as estudantes destacam, de como a nossa história não é contada nos diversos espaços educacionais em todos os níveis e da invisibilização de intelectuais negros (as) e referenciais positivos, apontando para a necessidade de um reposicionamento epistemológico. As estudantes ressaltam a maneira tópica como é tratada e questão étnicorracial no curso de Serviço Social da UFBA, ficando como discussão obrigatória apenas em uma disciplina no segundo semestre, quando deveria perpassar por toda a formação profissional. Observamos também, a partir do levantamento feito da matriz curricular, que esta nos surpreendeu positivamente, por constar, em 11 disciplinas obrigatórias, referência à questão étnicorracial, ainda que, de maneira incipiente. Consideramos ainda, no que se refere às aproximações e tensionamentos entre o serviço social e a questão étnicorracial que houveram avanços no âmbito da categoria de assistentes sociais no que concerne à ampliação do debate sobre a questão étnicorracial pelo protagonismo, principalmente, de assistentes sociais negras que têm pautado o debate. Muita coisa tem sido produzida pela categoria nos últimos anos sobre a questão étnicorracial que cabe ainda uma análise mais aprofundada.
Itinerâncias acadêmicas de estudantes negros(as) do curso de Serviço Social na UFBA e suas experiências formativas no âmbito do currículo
Dissertação
Resumo:
Programa de Pós-Graduação:
Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade (PPGEISU)
Nome do(a) Aluno(a):
Alcantara, Itamires Lima Santos
Orientador(a) (es/as):
Alves, Rita de Cássia Pereira