O Rap do fim do mundo: modernidade tardia brasileira e insurgência nas canções de Criolo e Emicida

Tese
Resumo: 
Criolo e Emicida são músicos que possuem destaque no cenário musical brasileiro contemporâneo, fruto de uma significativa produção artística e de atuações que marcam seus posicionamentos políticos no país. Os artistas compõem e atuam no contexto da modernidade tardia brasileira, sob os efeitos nefastos do modelo econômico que se estabeleceu durante a ditadura e com a democracia neoliberal que se firma após os anos de chumbo e que consolida as disparidades sociais já acentuadas nestes tempos. Há, então, na crítica a essa realidade nacional, o entrelaçamento de temáticas e de procedimentos estéticos: utilizando o sampling como procedimento de apropriação dos estilhaços desse mundo, os rappers desconstroem a ideia de um Brasil montado sob a égide da mestiçagem, sustentada pela falsa noção de democracia racial. Tal postura se manifesta não apenas nas produções cancionais de Criolo e de Emicida, como também nas suas múltiplas atuações, que performatizam modos de enfrentamento a esse contexto de violências históricas. A partir dessas problematizações, o trabalho pretende analisar como as composições desses artistas produzem uma leitura sobre a modernidade tardia brasileira, em que medida suas produções cancionais rasuram os discursos acerca da identidade brasileira e dos afro-brasileiros, como a violência sobre o corpo afrobrasileiro é apresentada como um dos traços significativos dessa modernidade e como os artistas e suas obras operam formas de insurgência contra essa face violenta do Brasil tardo-moderno. No desenvolvimento do trabalho, observou-se o processo de sampling como um procedimento estético e político, que, num viés afrodiaspórico, agencia diferentes perspectivas do Brasil e dos afro-brasileiros e as põem em diálogo. Outro aspecto importante é a afirmação da identidade afrobrasileira a partir da ocupação do espaço da rua – analisado no processo de formação das favelas brasileiras e na relação entre essa formação e a produção cancional dos artistas – como resposta a uma concepção de cidadania que, ao invés de garantir direitos, se manifesta como necropolítica que assassina o povo negro no Brasil. Além disso, foi possível apontar, a partir dos diferentes espaços de atuação dos artistas, diferentes formas com as quais eles se constroem como pensadores e como figuras atuantes na construção de alternativas para combater o trabalho de morte que historicamente se impõe sobre os afro-brasileiros, que tem o Estado como um de seus principais agentes.
Programa de Pós-Graduação: 
Pós-Graduação em Literatura e Cultura (PPGLITCULT)
Nome do(a) Aluno(a): 
Pitta, Alexandre Carvalho
Orientador(a) (es/as): 
Herrera, Antonia Torreão