O presente trabalho tem por finalidade apresentar o caso relativo aos “Orixás do Dique”. Trata-se de um caso emblemático cujo foco é o Dique do Tororó, espaço público da cidade de Salvador, onde estão instaladas desde 1998 esculturas nomeadas de orixás confeccionadas pelo artista Tatti Moreno em parceria com o Governo da Bahia. Para executar esta tarefa foi necessário recuperar os registros históricos que indicam sua condição de território negro historicamente constituído e utilizado pelos cultos afro-brasileiros. Foi necessário também recuperar a chamada "Bahia afro", isto é, o circuito intelectual, artístico e político de exaltação de alguns elementos afro-brasileiros impressos na cultura baiana e codificados numa linguagem propícia ao turismo e ao entretenimento. Igualmente necessário foi ter explorado o conflito religioso que se procedeu a partir da crítica evangélica encaminhada em âmbito legislativo contra as esculturas. Pondo ênfase na dimensão dos problemas que o caso evoca (tais como a dessacralização espacial, a folclorização dos símbolos afro-religiosos e a censura artística por “intolerância religiosa”), apresentamos resultados que indicam um público afro-religioso, cujo desafio maior é se aglutinar politicamente para determinar os rumos dos problemas que então o aflige.