Na Guiana (antiga Guiana Inglesa), a ação de jumbies (espíritos dos mortos) estende-se por diferentes espaços, tempos e corpos. Há uma classe específica de jumbies, os espíritos holandeses, aos quais se associam locais de moradia precisos (antigas plantações de açúcar) e um evento histórico particular ? a expulsão, pelos britânicos, dos colonizadores holandeses do país, no início do século XIX, quando estes últimos teriam se suicidado coletivamente ou sido assassinados. Os violentos acontecimentos em torno de suas vidas (e de suas mortes) dotaram os espíritos holandeses de certas características: tidos por traiçoeiros, gananciosos e vingativos, seus desejos e sua cobiça dificilmente são saciados. Considerados os verdadeiros donos da terra, isto é, aqueles que buscam reter o controle das áreas onde viveram no passado, esses espíritos costumam causar doenças, infortúnios e desgraças a famílias inteiras, além de atacarem sexualmente, durante os sonhos, mulheres e homens, arruinando seus relacionamentos afetivos. Por meio de descrições etnográficas de situações rituais e não-rituais, o projeto se propõe a pensar de que modo as relações entre espíritos holandeses e pessoas, que estão intimamente relacionadas às narrativas sobre o passado colonial da Guiana, mas não se reduzem a elas, se articulam em distintos espaços de experiência.