Urbanidades liminares: moradia e dinâmicas socioespaciais nas "margens" da cidade

Ano de Início: 
2017
Resumo: 

Inserindo-se no campo de debates sobre pobreza e espaço urbano no Brasil e tomando como referência empírica as transformações ocorridas nas cidades brasileiras nas últimas décadas, este projeto pretende investigar os possíveis nexos entre mobilidades socioespaciais, deslocamentos habitacionais, dinâmicas familiares e políticas urbanas nos processos recentes de produção e apropriação dos espaços de moradia das camadas populares nas cidades. Trata-se de tensionar, a partir de pesquisa de campo de caráter etnográfico em Salvador - BA, a perspectiva totalizante de "cidade" que orientaria as concepções originárias - e seus desdobramentos contemporâneos - de "favela" e "periferia" e as abordagens dicotômicas sobre as cidades dela decorrentes, calcadas em categorias como "cidade informal" ou "cidade ilegal", que sequem encarando tais configurações urbanas exclusivamente pela chave da "ausência", proclamando-as o "avesso da cidade". Partindo do pressuposto de que tal abordagem - a qual se ancora sobretudo em estudos e proposições focados quase que exclusivamente nas metrópoles carioca e paulista -, ao delimitar fronteiras demasiado rígidas entre duas formas de produção da cidade, deixaria escapar as relações (ainda que conflituais) que as caracterizam na prática, o projeto pretende perscrutar permeabilidades e cruzamentos entre os supostos polos configurados pelos pares conceituais cidade e favela, centro e periferia, cidade formal e informal, cidade legal e ilegal, valendo-se da noção de "urbanidades liminares". Para tanto, serão investigadas trajetórias urbanas de indivíduos e famílias em situação de pobreza que, nas últimas décadas, transitaram pela cidade em busca de moradia, bem como os cruzamentos, tangenciamentos ou desencontros com as políticas urbanas, habitacionais e sociais empreendidas no mesmo período. Tais trajetórias são encaradas como uma entrada privilegiada para o estudo das dinâmicas socioespaciais envolvidas em processos situados de produção, apropriação e significação dos espaços de moradia das camadas populares, objeto dinâmico de estudo, ao permitir apreender tais processos nas injunções entre espaço e sociedade. Desdobrando resultados de pesquisas anteriores, o projeto toma por hipótese a relação de tensão e complementaridade entre o lugar da casa nessas trajetórias urbanas e os múltiplos trânsitos (territoriais, sociais) que as configuram: de um lado, as dimensões de territorialização e fixação presentes na concepção mesma de moradia, e, historicamente, nas políticas habitacionais (e sociais) no país; de outro, o caráter dinâmico e transumante inerente às trajetórias investigadas, que tem como cerne arranjos familiares e redes de relações cambiantes que não se pautam pela estabilidade e rigidez dos vínculos, mas, ao contrário, por sua plasticidade, aí incluídas também a plasticidade das noções de moradia e cidade. Espera-se, nesse sentido, contribuir para desnudar as disjunções entre os saberes e dispositivos técnicos de planejamento e gestão urbana (e social) e as práticas de produção do urbano em ato (e suas representações), possibilitando criar e fortalecer novos campos de reflexão e problematização sobre o espaço urbano e seus modos de produção processual, que se somem aos ainda escassos estudos urbanos que vêm se atentando à existência de diferentes "regimes de urbanidade" e múltiplas maneiras de "fazer cidade".

Unidade de vínculo do(a) Coordenador(a)/Pesquisa: 
Coordenador(a): 
Thaís Troncon Rosa
Quantidade de Integrantes: 
7