Pretende-se com o projeto Cantando a Bahia: narrativas de cenários urbanos, ler a cidade como uma narrativa que abarca infinidade de imagens, impressões, sentidos e percepções, materializadas pelos ritmos, letras e melodias das produções musicais. E, nesse processo, evidenciar nas canções populares representações do espaço urbano da cidade de Salvador, enquanto materialidade, à qual se mistura a percepção dos passantes, daqueles que circulam pelas ruas, bairros e avenidas vivenciando as transformações que remodelam constantemente o espaço citadino. Entre as inúmeras imagens e temáticas veiculadas pela música popular, principalmente por aquelas que foram produzidas nos últimos anos, os cenários citadinos ganham representações complexas, pois em paralelo à memória das raízes que dão sustentação identitária aos espaços simbólicos, aparecem os signos da sonoridade fervilhante, que acompanham as obras de transformação citadina, dos edifícios em construção e do tráfego incessante. Acresce considerar a importância das representações virtuais, que dominam a cena contemporânea e são absorvidas sensorialmente pelos que circulam, partilham, leem e interpretam os cenários móveis, dinâmicos e fluidos que a cidade moderna oferece aos seus moradores e visitantes. Uma consciência de instabilidade paira sobre a urbe, que se reorganiza numa nova cena de atores efêmeros, de laços identitários transitórios. As relações entre formas de apreciação das produções poético-musicais, a memória de repertórios que o ouvinte traz consigo e o tipo de veiculação utilizado para divulgar as canções e torná-las populares também se constituem matéria de exame e pesquisa contemplada por esse estudo.