O projeto visa contribuir para a formação em pesquisa na área de Ciências Sociais. Após ter me dedicado no período 2018-2019, no âmbito da bolsa SANKOFA/CEAO, a um de nossos mitos negativos da formação nacional, qual seja, o discurso do patrimonialismo que tem formulação exemplar em “Raízes do Brasil” (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, proponho agora explorar de forma crítica um dos mitos positivos: a tese freyriana da miscigenação. Em seus fundamentos, essa tese está exposta no magnum opus do autor, “Casa grande e senzala”, publicado em 1933. A partir de então, ela se converte num bem-sucedido mito nacional, ainda que sem deixar de ser alvo de críticas. O que entretanto me interessará na tese da miscigenação e seu corolário, a formação de uma sociedade sui generis, será sua circulação internacional, isto é, seus efeitos e apropriações para além do próprio experimento tropical tematizado por Freyre. Irei, especificamente, me dedicar a um caso dessa circulação internacional. Do outro lado do Atlântico, em Cabo Verde, “Casa grande e senzala” encontra leitores e entusiastas de primeira hora, já logo na sequência da publicação do livro. Lá como aqui, as teses de Freyre pareceram adequadas para a descrição e autointerpretação de uma nação mestiça que seria um experimento civilizacional novo a partir da colonização portuguesa. A pesquisa visa problematizar a circulação e recepção das ideias freyrianas enquanto suporte de mitos nacionais de formação das sociedades brasileira e cabo-verdiana, no sentido da noção de “comunidades imaginadas”, discutir o papel dessas ideias para formação de uma identidade nacional num caso e noutro, e contribuir para o corpo teórico das críticas pós-colonial e decolonial, na medida em que será problematizado o papel positivo atribuído por Freyre ao elemento português enquanto agente da colonização.
Nome:
Ricardo Pagliuso Regatieri
Cargo:
Docente