Muitos sociologistas da religião têm percebido que, ao contrário do que se pensou, o que vem diminuindo com o tempo não é a crença pessoal, mas a prática institucional religiosa. Com o crescente aumento do interesse e do número de publicações científicas na área de religião/espiritualidade (R/E) e saúde nos últimos 20 anos, há inúmeros estudos que têm identificado uma relação positiva entre R/E e saúde, tanto física como mental. Há também evidências de que muitos pacientes desejam que este tema seja inserido em seus cuidados primários de saúde. Porém, ainda são poucos os profissionais que abordam tais questões no encontro com o paciente, principalmente por não terem preparo para tal. Apesar de a maioria das escolas americanas terem o ensino de R/E e saúde nos currículos das graduações em medicina, e de muitos cursos e disciplinas neste tema estarem sendo oferecidos na formação em cuidados primários, especialmente, em medicina de família, esta formação ainda se mostra precária e apresenta falhas. Nesse sentido, o presente estudo foi realizado a partir de uma revisão integrativa da literatura e divido em dois artigos, com o objetivo de investigar a inserção da R/E na formação e prática de profissionais de cuidados primários à saúde. O primeiro artigo apresentou como resultado que os profissionais de cuidados primários abordam a R/E de forma esporádica e ampla, e que existem muitos desafios à inserção desta temática no encontro clínico. Por outro lado, percebe-se uma grande participação dos profissionais deste nível de atenção tanto na oferta do cuidado espiritual quanto na produção científica da área. Dentre as especialidades de APS, os médicos de família são os que se mostram mais favoráveis à inserção do tema no cuidado ao paciente e na formação médica, sendo os que mais procuram conhecer as crenças espirituais/religiosas dos seus pacientes, e também o programa de residência ou de especialização que mais promove treinamentos e capacitação voltados para esta temática. O segundo artigo trouxe como resultado que o ensino de R/E nos cursos e residências de APS geralmente apresentava um currículo de conteúdos bastante similar e era ministrado por equipes abrangentes, de forma interdisciplinar e multiprofissional, em diferentes momentos, desde a fase final de estágio e internato dos cursos de medicina até as especializações e residências no nível de pós-graduação. Embora os estudantes de APS sejam favoráveis ao tema da R/E e saúde, e à sua inserção nos currículos de medicina, há contradições quanto ao formato deste ensino, muitos desejando que este seja de caráter apenas eletivo e não obrigatório. Os resultados indicaram ainda a existência de muitos exemplos de estratégias e ferramentas de ensino em R/E e saúde que podem servir como fonte e embasar novas iniciativas educacionais. Porém, há a necessidade de se investigar melhor a consistência e efetividade deste ensino, uma vez que são poucas as pesquisas que buscam avaliar as metodologias utilizadas e as intervenções realizadas em longo prazo. É necessária ainda a expansão de pesquisas e deste ensino para diferentes contextos e categorias profissionais, para que os profissionais de saúde possam desenvolver uma prática clínica mais abrangente, integral e humanizada.
A religião/espiritualidade na formação e prática de profissionais de saúde da atenção primária: uma revisão integrativa
Dissertação
Resumo:
Programa de Pós-Graduação:
Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade (PPGEISU)
Nome do(a) Aluno(a):
Gramacho, Larissa Tristão
Orientador(a) (es/as):
Dias, André Luís Mattedi
Welby-Borges, Marcus (co-orientador)