“A revolução somos nós”: esboço de uma escultura museal a partir da alquimia de Joseph Beuys

Dissertação
Resumo: 

Este trabalho é uma reflexão sobre o objeto de estudo da Museologia, que aqui é entendido como a Herança integral, ligada aos valores do espírito humano, conforme descrito pelo museólogo Tomislav Šola, ou os Bens Espirituais de acordo com o conceito do artista alemão Joseph Beuys. Mais do que um conceito de Beuys, todo o seu sistema de pensamento foi utilizado como base deste exercício de descompressão da teoria da Museologia a partir do pensamento poético. A ideia foi fazer aproximações entre Arte e Museologia para refletir sobre como a introdução de outros métodos epistêmicos podem apontar para outros modelos possíveis de musealização e outros conceitos museológicos. Para tanto foi feita uma interseção entre o campo da Arte em Beuys, e o campo da Museologia, usando a sistematização de Peter van Mensch para embasar a abordagem filosófico-crítica em um nível terciário de análise (reflexões sobre as fundamentações conceituais do campo museológico), e para justificar a inscrição desse trabalho na Escola da Museologia Crítica, cuja característica principal é refletir, questionar – mais do que definir – os enquadramentos museológicos, pensando a Museologia como ciência, como lugar de reflexão sobre a Herança, e não como um conjunto de teorias e métodos que apenas orientam o trabalho prático no museu. Šola, representante da Museologia Crítica, entra como interlocutor de Beuys por defender que é um contrassenso pensar a Herança a partir de uma abordagem normativa, e de abordagens comprometidas com a indústria cultural, que trabalham a herança como um produto de mercado consumidor. Šola defende que a abordagem poética da Herança é o principal elemento de transformação da Museologia e do conceito de museu. Uso como referencia prática minha experiência profissional como assessora da direção e depois diretora executiva do MAM da Bahia, e como parte do coletivo Museu do Mato, para demonstrar modelos possíveis da aproximação entre os dois campos: no Museu-Escola de Lina Bo Bardi dos anos 1960; no MAM-BA entre 2013 a 2015, que reencenou o Museu-Escola de Lina, e expandiu essa experiência de museu na 3ª Bienal da Bahia; e no Museu do Mato, um coletivo de Arte e Museologia, um experimento de museu como exercício poético. Segundo Beuys, a sociedade pode ser pensada como uma obra artística, moldada como se molda uma escultura colaborativa, a Escultura Social. Esta dissertação é o esboço de outra obra, a Escultura Museal, relacionada a ideia de um museu como espaço simbólico de articulação transdisciplinar e transmissão de fragmentos da herança humana. Museu como ferramenta de mudança, parte do esforço coletivo para alcançar um novo estágio evolutivo de humanidade. Museu como ferramenta de reconexão dos laços sociais de solidariedade, afeto, empatia; de reconexão com as subjetividades, para produzir outras percepções de mundo. Em contraponto com sistemas que fragmentam e bloqueiam o tempo. Tempo que é necessário para se reconectar com as subjetividades, para acreditar e construir utopias, outras possibilidades de futuro.

Programa de Pós-Graduação: 
Programa de Pos Graduacao em Museologia (PPGMUSEU)
Nome do(a) Aluno(a): 
Simões, Luciana Moniz de Aragão
Orientador(a) (es/as): 
Hernandez, Mariela Brazón