No Brasil, são remanescentes em Terreiros de Candomblé e comunidades quilombolas aportes lexicais e construções sintáticas originários de línguas africanas, trazidas por africanos transladados no processo diaspórico fomentado pelo Estado português durante a colonização. Considerando-se esse contexto, é analisado o emprego desse repertório linguístico pelo escritor Ildásio Tavares nas composições do LP Os Orixás (1979) – feito em parceria com o músico Luís Berimbau – e no libreto de Lídia de Oxum: Uma Ópera Negra (1995), de sua autoria. Verifica-se de que forma o uso artístico desse repertório estabelece linhas de fuga à compreensão da literatura como expressão de uma língua nacional a partir dessa representação linguística e identitária. Além disso, analisa-se como esses traços da yorubaianidade na escrita de Ildásio Tavares coloca em contato o repertório da cultura popular, da cultura midiática e da cultura erudita. Nascido em região cacaueira da Bahia, Ildásio Tavares destacou-se por um perfil de atuação múltipla na cena cultural – como poeta, dramaturgo, ficcionista, ensaísta e professor de literatura portuguesa da UFBA –, somada à sua vivência religiosa no Ilê Axé Opô Afonjá, tradicional Terreiro de Candomblé de nação ketu, situado na cidade de Salvador (Bahia), onde recebeu o título de Otum Obá Até – constituinte do corpo de Obás de Xangô, criado por Mãe Aninha, em 1936, para designar os dozes ministros do orixá e seus suplentes, conselheiros da Ialorixá nas questões civis da casa.