Alicerçada pelas bases teóricas da Linguística Aplicada e em diálogo com pressupostos da educação étnico-racial, esta pesquisa qualitativa de cunho etnográfico se propõe a responder a seguinte pergunta: de que modo as temáticas relacionadas à história e às culturas afro-brasileiras e afro-anglófonas podem ser trabalhadas na sala de aula de inglês numa perspectiva intercultural? A pesquisa se justifica pela certeza de que a aprendizagem de uma língua estrangeira consiste em desenvolver não somente competências linguísticas, mas em conhecer e interagir com as culturas da língua alvo. No entanto, quando se trata de aprendizagem de língua inglesa, existe uma equivocada ideia imperialista implícita, que concede o lugar de protagonista às culturas brancas, estadunidenses e britânicas, historicamente hegemônicas. Isso oculta muitas riquezas culturais da diáspora africana que também caracterizam essa língua, além de fortalecer ideologias racistas, eurocêntricas, em detrimento de saberes de matriz africana, compactuando com práticas colonialistas que apagam as contribuições dos povos africanos para a construção da nação brasileira, locus dos participantes da pesquisa. No Brasil, o tema da pluralidade cultural no currículo foi incluído nos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1998, como tema transversal, sem obrigatoriedade de sua aplicação. No entanto, somente em 2003, a Lei Nº 10.639/03 altera a Lei Nº 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação, determinando a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo escolar. Essa determinação explica os interesses desta pesquisa, cujo foco está na Educação Básica, através do ensino de Inglês como Língua Estrangeira (ILE), já que valida e respalda práticas pedagógicas de combate ao racismo. Para efetivar a proposta, foram elaboradas nove aulas de base intercultural, as quais foram ministradas no Ensino Médio de uma escola pública de Praia do Forte, importante centro turístico da Bahia. Os resultados da pesquisa comprovam que os participantes da pesquisa foram impactados positivamente ao interagir com conhecimentos étnico-raciais, uma vez que passaram a reconhecer esses saberes como elementos constituintes de suas identidades e das culturas da língua inglesa, puderam expressar suas opiniões e discutir criticamente ideologias racistas, integrando-se com seus discursos de resistência na luta contra o mito da democracia racial.