Conforme se observa na epígrafe deste trabalho, os estudos contemporâneos da tradução já não se limitam mais à função instrumental comunicativa da área, ao ato de se fazer entender em uma língua alvo um texto codificado em dada língua fonte. Mais que isso, a tradução é abordada como uma tomada de decisão política através da linguagem. O tradutor, por sua vez, é um sujeito autônomo, que se posiciona política, histórica e culturalmente, tanto no ato de interpretação do texto/cultura de partida, quanto no ato de (re)criação desse texto na cultura de chegada. No processo de leitura e (re)criação, esse tradutor/autor deixa alguns traços do seu percurso, que revelam pistas diversas a respeito das suas ideologias, crenças, filosofia de vida e visão de mundo. É esse material que, quando colocado em relação à versão tida como final do texto, nos permite ter melhor compreensão do texto/cultura dito de partida e de chegada, bem como do lugar do tradutor/autor no processo de tradução (re)criação do novo texto como um todo. Isso posto, no presente trabalho, objetivo compreender como se configuram as ideologias de Bob Marley no processo tradutório das metáforas em suas canções, quando traduzidas para a língua portuguesa por estudantes de Língua Inglesa da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Para tanto, lanço mão do material produzido por esses estudantes durante o processo de tradução das canções, a partir da gravação dos depoimentos dos tradutores e do registro da digitação online no aplicativo Google Documents. A análise desse material se dá a partir dos pressupostos teóricos-metodológicos da Crítica Genética (SALLES, 2002), da Linguística Cognitiva (LAKOFF e JOHNSON, 1980) e dos estudos da Tradução (BASSNETT e GENTZLER, 2001).