A Presença negra no centro antigo de salvador: saberes, fazeres e ofícios

A continuidade da pesquisa "A Presença negra no centro antigo de salvador: saberes, fazeres e ofícios" (PERMANECER 2017 e 2018) tem como questão construir uma reflexão acerca da historicidade da presença negra no Centro da cidade de Salvador, assim como a relação dessa presença com as práticas laborais aí desempenhadas. Seja em um recorte temporal mais alongado, que remonte ao período colonial, seja na contemporaneidade, o trabalho nas ruas do centro são balizados por um conjunto de elementos e dinâmicas que caracterizam esse território, e são racialmente implicadas. Ao descrever a dinâmica da cidade colonial, Graham afirma: “tudo que corre, grita, trabalha, tudo que transporta e carrega é negro” (2013: 39). O branco considerava o trabalho manual aviltante e, ao lado da exploração agrícola, o senhor teve de criar, entre a escravaria, um corpo de artífices para a satisfação das suas necessidades: pedreiros, carpinteiros, ferreiros, oleiros, seleiros, colchoeiros, sapateiros, mecânicos (CARNEIRO, 1964:64). O trabalho, ainda que forçado, foi o vínculo primeiro estabelecido entre os negros escravizados de África e o território hoje brasileiro. Foi a partir do labor que o negro se re-territorializou e ao mesmo tempo, foi construindo esse novo território de existência. Chama a atenção que mesmo diante de tantas alterações e modificações na dinâmica econômica, produtiva, política, tecnológica e também da própria expansão da cidade, sobrevivam ainda no centro resquícios de práticas laborais específicas, de domínio majoritariamente dos trabalhadores e trabalhadoras negras. Podemos associá-los a dois arquétipos, vinculados à dimensões de gênero: os artífices e as quituteiras. O passado de negros escravizados, livres e forros, conserva-se ainda no tempo presente, no cotidiano das quitandas, dos vendedores ambulantes, das baianas de acarajé, dos negros marujos ou mestres de embarcação, dos trabalhadores no transporte de pessoas e mercadorias, bem como nos ofícios de pedreiros, marceneiros, ferreiros, sapateiros, pescadores, barbeiros, etc.

Área Temática: 
Direitos Humanos e Justiça
Orientador(a) do Projeto: 
Nome: 
Gabriela Leandro Pereira
Cargo: 
Docente