Este projeto propõe desenvolver um aspecto de uma pesquisa anterior conduzida sob os auspícios de uma Bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq (proc. n. 312567/2013-8) e de uma Bolsa de Estágio Sênior da CAPES (proc. n. BEX 2706/15-6). O projeto PQ-CNPq, intitulado Reflexão e Entendimento, tem como objetivo fazer uma ampla revisão crítica da literatura recente sobre virtudes intelectuais, valor epistêmico e entendimento no âmbito da Epistemologia. Com ele, aprofundo um tema que venho investigando nos últimos anos, a saber, o problema do autoconhecimento e a natureza da racionalidade, mas estabeleço uma expressiva mudança de ângulo. Para traçar um rápido histórico desse itinerário, as pesquisas que convergem para meu trabalho atual são as seguintes: a) Externismo, Autoconhecimento e Ceticismo, desenvolvida sob os auspícios de uma Bolsa de Produtividade do CNPq no triênio 2008-2011 (proc. n. 306190/2007-9); b) Autoconhecimento e Razão Prática, foi o objeto do meu estágio de pós-doutorado no Departamento de Filosofia da Harvard University (Cambridge, MA, EUA) com o benefício de bolsa da CAPES (proc. n. 1052/09-8, biênio 2009-2010); c) Transparência, Reflexão e Vicissitude que também recebeu o benefício de Bolsa de Produtividade do CNPq no triênio 2011-2014 (proc. n. 309665/2010-8) e d) A Razão e seus Limites que teve apoio financeiro da FAPESB no triênio 2012-2015 (termo n. RED0008/2012) ainda em andamento. 2. Agora, com o presente projeto, pretendo investigar o papel (se há algum) da reflexão na economia cognitiva de uma pessoa e o sentido da noção de agência epistêmica. Por reflexão entendo a (suposta) capacidade de uma pessoa acessar, considerar, examinar, criticar seus próprios estados mentais intencionais de primeira-ordem. Em Epistemologia temos, de um lado, argumentos que sustentam que o traço característico da racionalidade humana envolve necessariamente a capacidade reflexiva e, do outro, aqueles que consideram que a capacidade de acessar, controlar e decidir acerca das próprias crenças é uma ilusão ou, pelo menos, profundamente limitada. A concepção usual de agência estabelece que um agente pratica uma ação x se ele faz x intencionalmente, se ele dispõe de razões para x, se ele, por meio da reflexão, está consciente de x e, consequentemente, se ele é livre para fazer x e se ele é responsável por x. Do mesmo modo, fala-se em agência epistêmica se um agente se encontra num estado epistêmico qualquer y (uma crença) que é resultado de uma performance intelectual intencional (por exemplo, uma investigação baseada numa dúvida) e se ele tem acesso reflexivo às razões para y, ou seja, se ele é ativo, e não passivo, em relação às suas crenças. 3. Esses temas da agência e reflexão estão diretamente associados e nos remetem a uma longa tradição na filosofia, sobretudo em filosofia moral. Entretanto, focarei minha abordagem desses temas no interior de um profícuo debate recente em torno da Virtue Epistemology, em especial, a partir da noção de "conhecimento reflexivo" que encontramos em Ernest Sosa e da rica fortuna crítica que esse debate tem gerado. Partindo desse ponto, discutirei a ideia de uma específica forma de performance epistêmica em que, em cenários que envolvem desafios céticos, um agente examina a confiabilidade dos processos de formação de suas crenças de primeira-ordem, procura formar uma visão coerente e compreensiva da própria experiência cognitiva e exerce um tipo de autonomia intelectual sobre suas crenças.