Composição coletiva de músicas a partir de uma visão afro-centrada de educação musical A grande maioria dos estudantes de escola pública em Salvador são crianças e jovens negros/as, que moram nas periferias da cidade. A escola pode ser vista como um lugar de perpetuação do status quo, mas pode e deveria ser lugar de transformação e ruptura de barreiras sociais historicamente construídas. A aula de música pode representar esse ambiente proporcionando conectar os/as estudantes com suas raízes culturais e ao mesmo tempo ser um canal de expressão de sua criatividade. Pensando, portanto, no protagonismo das crianças e jovens negros/as através da música, surge esse projeto voltado para a composição coletiva de canções a partir da música afro-brasileira. Conforme Candusso (2017) é importante que as questões étnico-raciais enquanto aspecto político perpassem as aulas de música para além dos conteúdos estritamente musicais. Optou-se, dessa forma, por realizar atividades de composição musical como forma de incentivar o protagonismo das crianças. De acordo com Viviane Beineke (2015), em seu artigo ?Ensino musical criativo em atividades de composição na escola básica?, existem diferentes tendências nas pesquisas sobre criatividade no contexto educacional, que têm como foco o ensino criativo, ensino para criatividade e aprendizagem criativa. Do ponto de vista metodológico, foram planejadas atividades para que as crianças se familiarizassem com o samba de roda e o hip hop, e progressivamente se apropriassem deles a ponto de brincar e criar. Os primeiros passos, portanto, foram dados com canções para que elas pudessem conhecer a forma e a estética dos estilos escolhidos. A partir dessa contextualização foram realizadas rodas de improviso para desenvolver a capacidade de rimar, exercícios de percepção musical, os instrumentos musicais característicos do estilo em questão foram experimentados e no final as turmas tocaram e cantaram. Esse processo provocou nas crianças um estado de aprendizagem criativa, engajando o interesse delas, tornando a aprendizagem prazerosa, valorizando suas contribuições. Foi assim que nasceu o rap ?Vamos parar com o preconceito? e o ?Samba de Andressa?, enquanto composições coletivas. Como resultado percebemos que as crianças conseguiram traduzir musicalmente suas ideias, expressando versos como: ?Racismo é ruína, vou largar a minha rima, mostrando para vocês que racismo descrimina? e ?Meu cabelo é escuro, lindo e cacheado, canto rap com amor e me sinto ignorado?. Através da parceria com o professor de tecnologia da escola, as duas músicas se tornaram videoclipes, acrescentando, portanto, a parte cênica e visual. Constatamos que esta experiência foi importante porque nos permitiu conhecer melhor cada criança, que em muitos momentos nos surpreenderam, como também permitiu às crianças que percebessem suas capacidades e seu potencial criativo.