O modus operandi e as dissidências/resistências em artes trazem à tona a desigualdade no campo aparentemente democrático da estética. O século da estética torna imprescindível o debate crítico e transformador do status quo sobre criatividade e geração artística nos países considerados emergentes ou caóticos. Pois, exatamente por este motivo e por carências de produção e registro, quando não de reconhecimento e legitimação, as artes no Brasil e na América do Sul carecem do foco necessário para uma legitima exposição/competição no cenário mundial. Assim como as paredes das casas das favelas expõem o limite do investimento em moradia e a falta de acabamento (reboque e pintura), considerado caro e desnecessário, a criatividade e a produção em artes parecem acompanhar esse critério da incompletude, como algo supérfluo quando exposto às dificuldades político-econômicas que esses países enfrentam. Surge daí uma estética limítrofe e desprovida de projeção competitiva quando confrontada com a máquina de acompanhamento, produção, divulgação/distribuição e arquivamento em países que investem e ostentam esse poder de controle sobre as artes em geral. A concentração dos mais famosos e respeitados equipamentos culturais nos países abastados representa a exceção perpetua da distância intransponível, muito maior e excludente que essa sensação de corte entre as nações, muito mais perversa que a globalização dos mais ricos e ainda mais oprimente que essa incessante escassez de recursos básicos como limite para os sonhos reais dos artistas afogados. Essa sensação de abismo colossal entre poderes subjuga e, ao mesmo tempo, fortalece dissidências artísticas com a dissolução da criação de obras incompletas e abandonadas, logo esquecidas ou nunca apreciadas. Mas a escassez e a desigualdade são consequência da concentração do prestigio dos eleitos. Logo, as artes que ameaçam a plutocracia e a arrogância devem ser dobradas ao poder, como em diversas ocasiões na história da humanidade. O debate da incompletude estética, entretanto, interessa diretamente a formação humana nas Américas. No Brasil, por exemplo, a ideia de pobreza e desventura que acomete os artistas é senso comum e é sustentada por grande parte da população levando os jovens a evitar os estudos nos diversos campos das artes. Por óbvios interesses exploratórios e repressivos, a tendência e as ações com menor apoio aos projetos de arte, para desvalorizar as culturas humanista e artística tem se fortalecido no mundo com o advento da tecnologia eletrônica e em rede e pela euforia dos resultados científicos mais valorizados na bolsa das bolsas de estudo e de fomento à pesquisa. Com o presente projeto, os pesquisadores membros do grupo ECUS visam estudar experiências, dissidências e resistências contemporâneas no campo das artes no Brasil e na América do Sul e abrem o debate intercultural em cooperação internacional com estudiosos de diversos países.