Justificações da arte no mundo da vida: modernidade e engajamentos contemporâneos

Ano de Início: 
2019
Resumo: 

Trata-se de recuperar ecos contemporâneos do gesto seminal de Platão: o de reconhecer os poderes da arte em articular valor de uma maneira que afeta as pessoas mais efetivamente do que outros instrumentos de comunicação visando a orientação para a vida, e com um alcance mais amplo de possibilidades do que qualquer outra articulação do espírito. Esses ecos revelam-se em vozes da estética filosófica e da filosofia da arte contemporâneas que retomaram, como pergunta aberta, a questão da justificação da arte. Uma das urgências do nosso tempo é novamente a de proteger e promover na vida pública um espaço para recursos espirituais e intelectuais que tenham uma natureza artística, narrativa, ficcional, e que ensejem orientação e experimentação subjetiva e social. Nesse contexto, a justificação da arte há-de buscar um caminho entre dois excessos filosóficos: (1) a autonomia radical e (2) o instrumentalismo reducionista. A autonomia radical dissolve os poderes da arte na forma de uma auto-contenção inconsequente (como na ideia de arte pela arte). O instrumentalismo reducionista dissolve os poderes da arte por meio da tutela das suas liberdades experimentais, em razão de motivações ideológicas diversas - políticas, religiosas, e mesmo visando uma pedagogia da distinção (Bourdieu). A ideia deste projeto é explorar caminhos filosóficos entre esses dois excessos, particularmente em Stanley Cavell e Arthur Danto, mas também em Jacques Rancière e Richard Eldridge. Subjacente à exploração desse equilíbrio entre dois excessos está a retomada de certo espírito das luzes (na fórmula apta de Todorov), sopesando também possíveis excessos cometidos por discursos críticos à modernidade que abandonaram esperanças relativas à riqueza de possibilidades de articulação eficaz do pensamento e de orientação para o desenvolvimento-no-mundo em artefatos artísticos e na literatura. A reivindicação da razão através da voz narrativa/ficcional para Cavell, a possibilidade do pensamento filosófico articulado internamente à composição artística para Danto, a partilha do sensível para Rancière, a expressão literária da condição do indivíduo como a um tempo capaz de reflexividade mas incapaz de mapear os cursos de ação abertos ao lançar-se à experiência do significado em Eldridge - trata-se aí de imagens filosóficas dessa retomada de possibilidades de autonomia para a arte sem abdicar de uma sua função orientadora na vida. A questão da justificação da arte emerge uma vez mais como ?questão aberta? (Hollis), ou seja, como uma questão filosófica, não estando dadas as coordenadas para respostas possíveis, e cabendo portanto à imaginação filosófica apostar em sentidos seus. Parte da tarefa que se abre é a de compreender o modo como discursos que visam a persuadir o interlocutor de uma proposição crítica, ou de um juízo, podem fazê-lo sem abdicar (1) da sensibilidade particular, (2) do recurso a atributos objetivos do artefato (quadro, poema, etc.) e tampouco, ao mesmo tempo, (3) de um sentido de ?correção? (Wittgenstein, ?Aulas sobre Estética?) da sua proposição - e mesmo um sentido de ?progresso crítico?. Finalmente, ao abordarmos o problema da crítica no contexto mais amplo do comentário filosófico ao papel da arte nos usos públicos da razão e da imaginação, a ideia é reivindicar uma função renovada para a arte - e também a crítica - na vida democrática, particularmente num momento em que processos de subjetivação parecem saturar o sujeito de estímulos que não se deixam articular em termos de uma experiência do significado.

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Coordenador(a): 
Rafael Lopes Azize
Quantidade de Integrantes: 
6