Se a interdisciplinaridade foi, avant la lettre, condição necessária para a construção do campo psicanalítico, a transdisciplinaridade forneceu elementos que justificam a pertinência e o vigor da psicanálise na produção contemporânea de conhecimentos. O encontro de saberes era não apenas incentivado, mas permanentemente advogado por Freud como constitutivo da formação universitária. Ao estabelecer pontes com diferentes campos, fazendo aquele edifício teórico ser atravessado por marcas outras e, consequentemente, modificar-se, Freud viveu, operou e transmitiu uma verdadeira experiência, instituindo uma nova episteme, no dizer de Foucault. O movimento freudiano circunscreve um novo campo de saber, marcado por não-linearidade, presença do contraditório, acolhimento da complexidade e, desde sua fundação afasta-se do modelo disciplinar, ainda que lhe seja tributário. O presente projeto de pesquisa terá início introduzindo o contexto de elaboração da obra freudiana e perseguindo a hipótese de que há uma antecipação da interdisciplinaridade em Freud; em seguida, apresenta o estado da arte sobre os termos interdisciplinaridade e transdisciplinaridade; por fim, defende a tese de que o estatuto da psicanálise corresponde mais à práxis transdisciplinar do que ao simples diálogo ou integração interdisciplinar, apontando ainda para uma possível superação do paradigma disciplinar. O objetivo, comum aos demais projetos que temos desenvolvido, continua sendo enfrentar as seguintes questões: Como sustentar, com rigor e sistematização, investigações em artes e humanidades em uma conjuntura ainda fortemente marcada pela cultura científica cartesiana? De que maneira tal embate se manifesta na universidade, gerando conhecimento, saberes e práticas e, sobretudo, constituindo um circuito de formação de sujeitos formadores e produtores de conhecimento?