Totalitarismo empresarial, trabalho e trabalhadores: uma análise do sistema Bata numa perspectiva transnacional (Brasil, Canadá e Chile na segunda metade do século XX)

A partir dos anos 1930, a Bata Shoes Corporation, empresa de origem checa, consolidou-se como um grupo empresarial multinacional que figurou entre os maiores produtores mundiais de calçados. A organização foi precursora na realização de transformações de ordem econômica, organizacional e social nas suas instalações em mais de 40 países. Além da racionalização dos processos produtivos e da fundação da Bata School of Labor para formar dirigentes industriais, notabilizou-se por construir vilas operárias dotadas de aparatos assistenciais para os seus funcionários. Devido à ocupação nazista da Checoslováquia, Jan Bata (irmão do fundador e principal executivo do grupo a partir de 1932), familiares e diretores da organização exilaram-se nos EUA em 1939. Posteriormente, ele, parte de sua família, gestores e trabalhadores checos fixaram residência no Brasil em 1941. O controle das empresas foi objeto de intensa disputa judicial, que só se encerrou nos anos 1960, entre Thomas J. Bata (filho do fundador), que transferiu a sede administrativa para o Canadá, e Jan Bata, que no Brasil, foi responsável, entre outras iniciativas, pela construção de uma fábrica de calçados e da vila operária chamada Batatuba, no município de Piracaia-SP. O principal objetivo da pesquisa que desenvolvo como parte das atribuições de professor do Departamento de História da UFBA é analisar a história da organização mundial Bata e de seus trabalhadores na segunda metade do século XX. Por meio de um amplo estudo comparativo, de perspectivas transnacionais, busco compreender as principais características das fábricas e das vilas operárias que o grupo edificou no Brasil, no Canadá e no Chile. As principais questões analisadas são: quais as principais características do sistema de gestão Bata, como se deu sua implantação no continente americano e sua apropriação pelos trabalhadores? Portanto, interpreto os elementos que compunham o sistema de controle social formulado no início do século XX na Checoslováquia, sua difusão, sua aceitação, os questionamentos, sua recusa e as lutas operárias frente a um amplo projeto que buscava exercer um domínio praticamente total sobre os trabalhadores, indo além dos espaços e dos tempos de trabalho, ao adentrar as esferas domésticas e os tempos de ócio.