Este projeto propõe desenvolver um aspecto de um programa de pesquisa que vem sendo realizado ao longo dos últimos anos acerca do lugar e valor da reflexão na filosofia contemporânea, especialmente na epistemologia. Esse programa de pesquisa foi beneficiado com bolsas de Produtividade em Pesquisa do CNPq de 2008 até a presente dada (processos n. 306190/2007-9, 309665/2010-8, 312567/2013-8), contemplado com dois estágios de pesquisa no exterior, o primeiro no Departamento de Filosofia da Harvard University (com bolsa da CAPES, proc. n. 1052/09-8, biênio 2009-2010) e o segundo no Departamento de Linguística e Filosofia do MIT (com bolsa da CAPES, proc. n. 2706/15-6, biênio 2015-2016) e recebeu apoio financeiro da FAPESB (proc. n. RED0008/2012, triênio 2012-2015). Com esse programa de pesquisa tenho procurado principalmente em compreender um importante debate em epistemologia acerca do papel da reflexão na economia cognitiva de uma pessoa ? reflexão entendida como a capacidade de uma pessoa acessar, considerar, examinar, criticar seus próprios estados mentais intencionais de primeira-ordem. Em epistemologia temos, de um lado, argumentos que sustentam que o traço característico da racionalidade humana envolve necessariamente a capacidade reflexiva e, do outro, aqueles que consideram que a capacidade de acessar, controlar e decidir acerca das próprias crenças é uma ilusão ou, pelo menos, profundamente limitada. No trajeto dessa investigação, como resultados parciais, foram publicados artigos. O presente projeto pretende explorar certas consequências desse trajeto e investigar uma nova via para resolver o problema da reflexão em epistemologia. O ponto central desta proposta é a tese segundo a qual a reflexão tem valor epistêmico. Esta ideia contém duas partes: a primeira afirma que a reflexão tem um valor instrumental; a segunda, que a performance reflexiva promove uma realização epistêmica que tem um valor epistêmico final e assevera que há um tipo de bem epistêmico que só pode ser alcançado por meio da reflexão. Para discutirmos esse ponto, o problema da reflexão será examinado a partir de um ângulo pouco explorado na epistemologia contemporânea, qual seja, o contexto de cenários céticos de desacordos dialéticos. Como será entendido aqui, desacordos dialéticos envolvem interlocutores que são pares epistêmico e que, de um lado, sustentam crenças divergentes sobre um mesmo assunto e, do outro, são desafiados, num confronto argumentativo, a rever e justificar suas posições acerca desse assunto em desacordo. Nesses cenários (distinto dos cenários céticos como os cérebros numa cuba ou do gênio maligno), a pessoa é desafiada a realizar uma investigação cujo objeto são as próprias crenças e justificações de partida e, diante do desacordo, decidir o que é epistemicamente confiável acreditar. O dois termos centrais desta pesquisa são reflexão e preferência epistêmica. A reflexão, nesse cenário, é uma performance, uma atividade por meio da qual a pessoa, examina a evidência, conteúdo e confiabilidade das próprias crenças. Tal performance pode levar a diferentes resultados, mas se alguém que é capaz de refletir criticamente em contextos cético-dialéticos, isso é algo positivo e virtuoso, independente do resultado ? ao contrário da performance de uma pessoa que, em face aos desafios céticos, simplesmente permanecem intelectualmente imóveis ou assumem uma posição intelectualmente covarde, arrogante e dogmática. Já por preferência epistêmica entendo a habilidade epistêmica de alguém que, face ao desafio cético-dialético, decide acreditar ou não acreditar ou suspender o juízo, preservando a racionalidade e o virtuosismo da sua escolha (isso, é claro, toca no polêmico tema do voluntarismo doxástico).