Este trabalho investiga as conexões entre o teatro épico desenvolvido pelo dramaturgo e encenador alemão Bertolt Brecht e o fazer artístico do Bando de Teatro Olodum, com atenção especial voltada ao trabalho de atores e atrizes no espetáculo Cabaré da RRRRRaça. O primeiro capítulo apresenta a trajetória do Bando, o conceito de teatro negro adotado no trabalho e introduz o contexto histórico que impulsionou, na Alemanha da primeira metade do século 20, o surgimento da forma épica de teatro através dos artistas Bertolt Brecht e Erwin Piscator. O teatro épico é abordado em sua multireferencialidade, destacando as influências da cena de cabaré alemã dos anos 1920 no fazer teatral de Brecht, já sinalizando conexões com a poética do Bando de Teatro Olodum. O segundo capítulo se debruça sobre o que seria uma atuação épica a partir de escritos deixados por Brecht sobre o trabalho de ator/atriz e aborda o processo de trabalho dos artistas do Bando, discutindo conceitos como observação, contradição, distanciamento, historicização, gestus e gestus social. O terceiro e último capítulo se debruça sobre o espetáculo Cabaré da RRRRRaça, desde a encenação à atuação, traçando conexões com os conceitos brechtianos e observando como os traços épicos aparecem e desaparecem, entrecruzando-se com poéticas contemporâneas e colaborando para que a atuação militante se consolide. Observa-se uma ressignificação do conceito de teatro épico e, a partir da sua assimilação entrecruzada com outras poéticas e com o debate racial, percebe-se a existência de um épico do Bando. Além de obras de Bertolt Brecht, teóricos como Walter Benjamin, Anatol Rosenfeld, Gerd Bornheim, John Willet, Luiz Marfuz e Sergio de Carvalho auxiliam no debate sobre o teatro épico; pesquisadoras como Leda Maria Martins e Evani Tavares Lima dão suporte às reflexões sobre o teatro negro; o autor Franz Fanon e as autoras Grada Kilomba e Djamila Ribeiro colaboram com as abordagens sobre racismo, gênero e representatividade; os teóricos Stuart Hall e Nestor García Canclini em abordagem sobre identidade e identificação; e autores como Patrice Pavis, Raimundo Mattos Leão, Matteo Bonfitto, Jacyan Castilho, André Carreira e Jurij Alschitz apoiam abordagens sobre gêneros e poéticas teatrais. A investigação sobre o Bando de Teatro Olodum tem como base teórica o autor Marcos Uzel e como fontes vivas atores, atrizes, coreógrafo e diretores do grupo, entrevistados ao longo desta pesquisa, que também se apoiou na consulta de documentos diversos e na análise de registros audiovisuais de diferentes apresentações do espetáculo Cabaré da RRRRRaça.