Esta tese consistiu em uma análise sobre os discursos e as práticas da Igreja Católica na educação de surdos entre os anos de 1950 e 1980, bem como investigou os sentidos e significados desses discursos no processo educacional desses sujeitos. A investigação partiu da análise de obras, textos e documentos tecidos pela Santa Sé para a catequese e, consequentemente, a educação desses indivíduos, buscando identificar nessas produções discursivas, os modos como a surdez foi construída, tecida pela Instituição de forma a instituir saberes. Além disso, percebeu as relações históricas, de poder, de saber e de práticas instituídas pela Igreja para com a educação de surdos. A produção de discursos sobre integração social, educação e acolhimento aos surdos ocupa uma posição de base histórica na Igreja Católica, incomparável a outras instituições. A partir dos anos 30 do século passado no Brasil, foram perceptíveis tentativas expressivas de escolarização para as pessoas com deficiência por parte da Igreja. A organização em associações e a criação de escolas junto a hospitais foram bem evidentes nas décadas seguintes. Diretrizes e princípios foram significados no processo educacional de pessoas com surdez, estabelecendo assim, com a surdez, relações simbióticas, produzindo discursos e práticas que guardaram, por assim dizer, interesses e redes de poder que foram tecidos na construção de enunciados que instituíram significados múltiplos para e na educação de surdos, e, como corolário, determinaram condições históricas e sociais desses sujeitos. Nesse sentido, a produção desses discursos foi materializada nas práticas pedagógicas para com os surdos e, consequentemente, constituiu uma circulação de saberes tornados como verdadeiros. Esta pesquisa qualitativa caminhou sob a luz do Paradigma Pós-Estruturalista e trilhou os caminhos metodológicos da Análise do Discurso (AD) na perspectiva foucaultiana. O exame dos sentidos e significados a partir da AD possibilitou a análise dos lugares, das práticas e das relações de saber e poder que os instituíram. Assim, este estudo investigou quais foram esses discursos e como foram produzidos. Além disso, esquadrinhou as inúmeras práticas produzidas pela Santa Sé para com a surdez, as quais produziram sentidos no processo educacional desses sujeitos na sociedade brasileira. Por meio de seus quadros, a Igreja Católica incentivou tanto uma pedagogia voltada para a oralidade quanto para a linguagem manual, ou ainda voltada para a junção dessas duas modalidades. Perpassou pelas concepções de assistência a essas pessoas, ora pela de educação desses indivíduos. E os discursos, as literaturas e as práticas institucionalizadas configuraram-se como um processo de emergência de um novo discurso em que os aspectos doença, miséria, maldição e castigo foram reconfiguradas e incorporadas no campo da possibilidade, da educação e da integração.