Dois Perdidos Numa Noite Suja

Diante do atual quadro social e político brasileiro, o presente projeto busca investigar em que condições se encontram neste momento os sujeitos atuantes, não somente numa perspectiva socioeconômica e política, mas também subjetiva e existencial. Para tanto, propõe a montagem do texto dramatúrgico Dois Perdidos Numa Noite Suja, de Plínio Marcos, visando integrar alunos dos cursos de interpretação e direção. A escolha por montar Plínio se dá mediante a constatação de que o atual governo não somente opera a serviço do capital internacional, precarizando as condições de vida da classe trabalhadora, mas, também, mantém relações estreitas com o a ideologia totalitária contemporânea, seguindo a onda reacionária global. O último relacionamento que mantivemos com essa ideologia nos legou o rompimento total do pacto democrático: o autoritarismo, a censura, a imposição de um pensamento único, a tortura e a usurpação dos nossos direitos fundamentais. Plínio, durante esse período (1964 a 1985) foi uma das pessoas de teatro que mais sofreu com a perseguição da censura, e isso se deve ao caráter revolucionário da sua obra, que faz emergir à cena os sujeitos mais rebaixados, humilhados e marginalizados na sociedade brasileira (presidiários, prostitutas, homosexuais, menores abandonados). Do período em que esteve vivo e atuante até o presente momento, esses sujeitos ainda permanecem nas mesmas condições, vistos como subumanos. Ocupar esse lugar de abjeção, sem o mínimo acesso a uma possibilidade efetiva de emancipação, provoca danos subjetivos irreversíveis à esses sujeitos e os condena a um lugar de violência, tanto na posição passiva quanto ativa. Justamente isso que o presente projeto busca investigar e expressar com a montagem de Dois Perdidos: as condições materiais-objetivas (realidade concreta) e subjetivas que enredam esses sujeitos e os empurra para o abismo do crime e da violência.